Há uma rua de Hamburgo com o nome do burgomestre Simon von Utrecht, mas quase nenhum hamburguês sabe quem foi tal sujeito. Apenas sabem que ordenou matar um homem, que liderava um grupo marítimo que se recusou a pagar impostos e fez-se ao mar com um barco sob a bandeira da LIBERDADE, Klaus Stortebecker.
Simon von Utrecht como era de esperar fixou preço á cabeça do pirata, e dúzias de capitães alemães, suecos e dinamarqueses lançaram-se na sua captura.
Passado 8 anos (1400) foi encontrado, tendo Simon von Utrecht sentenciado a morte por decapitação de Stortebecker. Parte do castigo imposto era o pirata assistir á morte dos seus homens. No entanto, Storbecker falou:
- Quero ser o primeiro, e mais: proponho-lhe um acordo para melhorar o espectáculo, senhor Utrecht.
- Fala - ordenou Simon von Utrecht.
- Quero ser o primeiro. Quero ser decapitado de pé, e quero que, por cada passo que dê depois de minha cabeça ter tocado no solo, se salve um dos meus homens.
Utrecht achou tudo aquilo uma fanfarronice, acabando por aceitar.
A ciciante folha de aço cortou o ar da manhã, entrou pela nuca e saiu pelo queijo do pirata. A cabeça caiu sobre o solo as pranchas da ponte e, perante estupefacção de todos, o decapitado deu doze passos antes de cair redondo.
Será que a rua ficou com o nome da pessoa certa? Os alemães parece que acham que sim, pois o nome da rua ainda se mantém.
Se é certo que a vida é breve e frágil, também é verdade que a dignidade e a coragem lhe conferem a vitalidade que nos faz suportar os enganos e desditas.
Baseado no livro "As Rosas de Atacama", Luís Sepúlveda
